Nas relações interpessoais os interlocutores devem ter muito cuidado com as palavras que proferem. É que, no calor de uma discussão, as palavras podem atingir de forma tão profunda um dos dois contendores, que impossibilita, depois, qualquer reaproximação.
Fincado nessa constatação é que tenho dito, reiteradas vezes, que as pessoas têm que refletir, antes de qualquer agressão verbal. Tenho reiterado essa afirmação em diversas oportunidades. Tenho, outrossim, agido, sistematicamente, de acordo com essa premissa.
Ao longo da minha vida e em face mesmo da minha formação profissional, fui testemunha involuntária de várias discussões e agressões verbais ocorridas no calor de um embate. Muitas dessas agressões, por atingiram tão profundamente a honra de um dos interlocutores, inviabilizaram, ao depois, qualquer composição.
Em face da experiência de vida e do testemunho desses embates é que, sempre que travo uma discussão mais acerba com alguma pessoa, tenho o cuidado de medir as palavras. Não podemos, no calor de um entrevero, dizer tudo que queremos, tudo que pensamos, por maior que seja a nossa indignação. É preciso, pois, sopesar, refletir antes de falar, para que as portas da reconciliação permaneçam abertas. A ofensa que decorra de um embate pode agredir de tal forma a honra dos litigantes que as portas da reconciliação se fecham para sempre. Essa constatação serve para todos os embates da vida pessoal – até e, sobretudo, nas divergências políticas e nas relações familiares, onde os embates são mais freqüentes.
Ao longo de minha vida tenho me defrontado e tenho sido vítima de interlocuções acerbas, açodadas, sobretudo no desempenho de minhas funções. Tendo tido o cuidado, no entanto, de pensar, refletir, contar até dez, antes de revidar a uma agressão verbal. Mas não fui sempre assim. Houve uma fase da minha vida em que não levava desaforo para casa. No calor de um debate, se eu não fosse capaz de responder à altura uma agressão verbal, me sentia menoscabado, humilhado. Só sossegava, devo dizer, quando tinha a oportunidade de dar o troco. Hoje, ainda que saia em desvantagem – o que ocorre quase sempre – , prefiro perder o embate do que a amizade do interlocutor para todo o sempre. Prefiro deixar as portas abertas para uma composição.
Com o espírito belicoso, devo dizer, rompi muitas amizades, pois que, no calor da discussão, ou depois dela, só sossegava quando tinha a certeza de ter dado o troco ao oponente – ainda que serôdio. Quanta ingenuidade! Quanta inconseqüência! Eu nunca fui feliz por vencer uma contenda verbal. Infelizmente, custei a me dar conta dessa realidade. Atualmente, amadurecido, com os cabelos encanecidos, com família constituída, sendo alvo de injustiças, sinto-me muito mais feliz quando, agredido, respondo a agressão com equilíbrio, com parcimônia, com tolerância, sem estimular o conflito. E, digo mais, sou mais feliz assim. Não vale à pena viver uma vida conflituosa, belicosa com os desafetos. Aos inimigos, aos agressores, aos antagonistas reserva apenas a minha indiferença. Dou como resposta ao inimigo gratuito a minha retidão, a minha dignidade, a minha honorabilidade, a minha probidade.
Mas o que importa mesmo é que, tendo mudado, sou mais feliz. Ninguém é feliz enfrentando o desafeto.E não adianta me provocar, pois não vou responder à provocação. Se o fizer, se tiver que responder a uma agressão, o farei depois de muito refletir, de modo a deixar as portas abertas para uma futura reconciliação. Não vale à pena ter inimigos. Não vale à pena estimular a cizânia. Viver em paz, minimizar as querelas faz bem ao espírito.
Muito sábio este relato, refletir sempre antes de falar,as palavras não voltam nunca mais, as palavras ferem, e as vezes esse coração ferido nunca mais volta a ser o mesmo.
Para muitas situações nesta vida, calar nos torna sábios.