O ingênuo amigo do meu filho

Pouco tempo depois que me mudei para o meu atual endereço, uns colegas de meu filho, conversando sobre assuntos diversas, indagaram dele se era verdade que o Tribunal de Justiça me fornecia combustível e mercearia. Meu filho, naturalmente, respondeu que não, afinal ele sabia da nossa real situação, pois que nosso jogo com ele e a irmã foi – e é – sempre muito aberto.

Pois bem. Chego hoje pela manhã em meu gabinete – são sete horas e seis minutos – e encontro o balde de lixo transbordando. Lembrei logo do amiguinho do meu filho. Com seria bom se ele e os demais jurisdicionados soubessem das nossas dificuldades! Como seria didático se soubessem que é a minha secretária que está recolhendo o lixo e fazendo limpeza em minha sala! Como seria bom se ele soubesse que há dias que não há sequer água para beber em meu gabinete! Como seria bom se soubessem que no meu cartório não há impressora e que os meus funcionários digitam os mandados e sobem para o meu gabinete para imprimi-los! Como seria bom se soubessem que há dias que não tem açúcar para o cafezinho! Como seria alvissareiro se soubessem do tratamento que se dispensa nas delegacias aos presos provisórios! Como tudo seria diferente se soubessem que a Justiça criminal só tem os olhos voltados para os miseráveis! Como seria bom se soubessem que há dias que não há carros para diligências indispensáveis à realização das audiências!

O tempo passa e as coisas não mudam!Mas sigo em frente porque sou um obstinado. Apesar de tudo, ainda vale à pena acreditar que um dia será tudo diferente.

Não fosse a esperança que tenho de que as coisas vão mudar, não valeria à pena continuar lutando.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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