Deixando o proscênio

Confesso que todos os dias penso em me aposentar. Há dias que penso mais; outros, nem tanto.

O certo e recerto é que, definitivamente, aqui ( no Tribunal de Justiça) não é meu mundo.

É que não gosto de descortesias. Todavia, contraditoriamente, aqui e acolá,  nas sessões do TJ/MA,  sou – ou me sinto? – agredido.

As razões? Procuro-as, com sofreguidão, mas não as encontro.

Não suporto, ademais,  os que têm obsessão de si.

Paradoxalmente, sinto que a minha imagem, no Tribunal,  é de um narcisista empedernido.

Hoje, na sessão do Pleno, a minha vontade de sair da ribalta, de deixar o proscênio,  aflorou com muita intensidade.

Quem assistiu a sessão do Pleno sabe do que estou falando.

Aqui parece ser pecado defender uma tese oposta, ainda que se faça com o maior cuidado, escolhendo as palavras.

Eu tenho primado, na relação com os meus colegas, pela cortesia e  pela gentileza.

Ninguém pode alegar, portanto,  que eu, em qualquer momento, tenho deixado de ser cortês com os meus pares – mesmo em relação aos que não têm manifestado o menor carinho pela minha pessoa.

Para os que não pensam como eu, para os que não aceitam ser contestados, para os que se sentem bem com a descortesia, trago uma frase lapidar do professor Luis Roberto Barroso, para reflexão:

“Ser gentil é como fazer a vida acontecer ao som de uma boa música”

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

3 comentários em “Deixando o proscênio”

  1. Martim Luther King certa vez disse: O que me preocupa não e o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa e o silencio dos bons. Não se cale, por favor! Desejo do fundo de meu espirito que a sua forma de proceder contamine o judiciário maranhense, e que muitos outros que pensem como voce gritem de forma tão forte que a desonestidade não tenha outra alternativa que não se calar.

  2. Prezado Desembargador, vejo com certa decepção, não sei se este é o termo, mas com certeza com desanimo estas suas colocações, digo, V.Exa., ao ser alcançado ao mais alto patamar do judiciário maranhense criou uma expectativa de mudança, um anseio por demais esperado, não só pela sua postura de independência,mas pela sua retidão que lhe é peculiar, podemos divergir, como já divergir de algumas colocações de V.Exa., não podemos é nos colocar como o dono da verdade e da consciência humana. De certo, acredito na sua reflexão, de cumprir até a compulsória essa sua missão perante o TJMA, e para conforta-lo, sendo um pouco prepotente, veja os debates que ocorrem do STF, no julgamento do mensalão, entre o Relator e Revisor,nem assim, poderemos deixar de exaltar a figura exponencial do Min. Joaquim Barbosa, o mesmo digo a V.Exa., para não se deixar abater diante das peculiaridades, do exibicionismo que muitos se deixam levar. A sua presença no TJMA se faz mas necessária diante destas mazelas que lhes são postas.

  3. Desembargador, vossa excelência nao pode desanimar jamais em razão do relevante serviço que presta à sociedade. Alguns magistrados precisam sair do pedestal da prepotência e assumirem o verdadeiro poder que lhes foram conferidos: o do judiciário. Certa vez citou o Ministro Ayres Brito “O Poder que evita o desgoverno, o desmando e o descontrole eventual dos outros dois não pode, ele mesmo, se desgovernar, se descontrolar”.
    Assim, conclamo a vossa excelência para não se abater com determinados comportamentos estúpidos, pois Aristoteles já lecionava que ” A juventude envelhece; A embriaguez passa; A burrice se educa; Mas a estupidez é eterna.”

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