Como um casulo

6_casuloReconheço que, em face de muitas das minhas manifestações,  eu me coloco, muitas vezes, na linha de tiro e viro alvo fácil de críticas, afinal muitos não concordam com as minhas posições, o que é democraticamente aceitável. Há ocasiões que concluo, depois de alinhavar o pensamento, que não deveria publicá-lo, para evitar ser mal interpretado. Depois  de uma pequena hesitação, termino me decidindo pela publicação. É algo incontrolável! Eu fico sempre com a sensação de que alguém precisa dizer algo, que alguém precisa contestar o que está estabelecido como natural, que alguém tem que assumir uma posição, que o pior que se pode fazer é calar, se acomodar, deixar as coisas fluírem, ainda que se tenha que pagar um preço alto pela ousadia.

Diante dessa constatação – ou seja, de que o que se pensa deve ser compartilhado -,  ao fim e ao cabo de cada reflexão eu me sinto na obrigação de veicular o resultado delas,, afinal, pensar  – e expor, na mesma balada, o resultado do que se pensa – só incomoda aqueles que pensam e agem de forma diferente do que penso e do que sou; mas, nesse caso, seria bom que os que discordassem saíssem da inércia para, dialeticamente, democraticamente, respeitosamente, discutirmos os nossos pontos de vista.

O pior se pode fazer, repito, é pensar e calar, é querer dizer e engulir as palavras.

Deve-se ter em linha de conta, a propósito, que o pensamento, por si só, não amedronta ninguém, não repercute, não tem efeito, não tem consequência, é um nada, é pura irrelevância, afinal, se somos dotados de racionalidade, se não padecemos de nenhuma doença mental que nos retire a capacidade de entender e querer, deve-se, sim, pensar e dizer o que pensamos. Nós podemos, até,  se não deixarmos a covardia quebrantar as nossas forças, mudar o mundo com as nossas pregações, com a exposição das nossas convicções, que, afinal, são coincidentes com o que pensa a absoluta maioria.

Um pensamento aprisionado tem a mesma consequência que o uma lagarta num casulo; ela nunca será borboleta.

É preciso, pois, pensar e ir além do pensamento.

Só para ilustrar, lembro que os poderosos de Atenas tinham Sócrates como um perigo, pois ele  ajudava a juventude a pensar. Por isso, foi acusado de desrespeitar os deuses, de corromper os jovens e violar as leis. Por isso foi condenado, e por isso ingeriu cicuta e foi levado à morte.

Passados tantos séculos, fico, às vezes, com a sensação de que ainda é pecado dizer o que se pensa e que  só não peca e não desagrada aquele que mantiver o pensamento sob custódia.

É preciso acreditar na força racional do pensamento. Temos que ter fé, como seres racionais, nos nossos pensamentos, afinal, reflexão (rectius: o pensamento) é a consciência conhecendo-se a si mesma como capacidade para conhecer as coisas, alcançando ou o conceito ou a essência delas( Marilena Chaui, Convite à Filosofia, 1998)

Uma manifestação, para encerrar. Quando eu me decido por reflexões dessa natureza, não olvido que, segundo Marx, os nossos pensamentos são impulsionados por um poder invisível chamado ideologia. Não deslembro, da mesma forma, que Freud, de seu lado, compreendia que os nossos pensamentos são manipulados por uma força invisível e profunda que atua sobre a nossa consciência, chamada inconsciente.

Entendo, inobstante, que as ponderações que fiz acerca do pensamento não autorizam uma discussão filosófica desse porte.

Tudo isso pode e deve ser ponderado. Todavia, entendo que não devo fazê-lo nessa oportunidade.

Fico por aqui, pois.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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