Estimada Natalia Rudenko,
Permita-me fazer algumas ponderações, a propósito de sua estupefação, diante da opulência em que vivia o senhor Yanukovich, ex-presidente do seu país, a Ucrânia.
Devo dizer que daqui, mesmo distantes milhares de quilômetros de vocês, estamos acompanhando tudo, em tempo real, tirando proveito do que de bom nos proporciona a tecnologia.
Devo lhe dizer, inicialmente e sem nenhuma originalidade, que a vaidade do ser humano se manifesta de várias formas. Nesse sentido, tenho compreendido que todos nós, no fundo, somos vaidosos. Todos gostamos de ser reconhecidos, elogiados pelas nossas boas ações, pela nossa boa conduta moral; isso é, para mim, vaidade, na melhor acepção do termo.
Há outros, no entanto, prezada Natalia, cuja vaidade é a opulência, é poder ostentar, mostrar que está podendo, pouco lhes importando o patrimônio moral, mesmo porque esse tipo de gente não tem pudor.
Eu, cá do meu canto, também tenho as minhas vaidades. Eu acho, por exemplo, que, com as minhas crônicas, tenho estimulado as pessoas a refletirem acerca dos mais variados temas, ainda que reconheça que nem sempre tenho me saído bem, todavia, ainda assim, tenho procurado instigar.
Sempre que provoco uma séria reflexão acerca do que penso e escrevo, sinto-me, sim, vaidoso, por entender que, de certa forma, tenho dado a minha contribuição a uma parcela da sociedade que parece adormecida diante de tanto desmando e falta de pudor dos que nos dirigem.
Não é incomum deparar-me com pessoas que fazem menções elogiosas às minhas crônicas, que se dizem leitoras assíduas do meu blog, e que elogiam a minha posição acerca de determinadas questões. Isso me envaidece, sim. Na medida certa, no entanto. Sem descambar para a morbidez, pois, antes da vaidade, sobreleva a responsabilidade que tenho em face das coisas que escrevo.
Não me apraz, por outro lado, estimada Rudenko, o exercício do poder, diferente do presidente deposto do seu país. Não sei lidar com o poder. Não sei traficar influência. Não sei tirar proveito de nada. Por isso, não me fascina a perspectiva de um dia vir a ser presidente ou corregedor do Tribunal de Justiça do meu Estado. Eu não saberia lidar com certas espertezas e com a falta de compromisso de muitos.
Faço essas reflexões apenas para externar a minha sincera estupefação em face da conduta dos que adoram a ostentação que o poder lhes proporciona. Algumas pessoas, nessa sentido, agem como se tudo fosse matéria. Vivem, assim, em função do que podem ostentar. Nada disse, no entanto, me fascina.
Depois da queda do presidente do seu país, Viktor Yanukovich, você teve acesso à sua mansão, e contatou que lá o piso era de mármore, as pias de ouro, e que havia, ademais, campo de golfe, e, até, um zoológico, além de uma colação de carros antigos.
É claro que o povo do seu país, como sói ocorrer, ficou indignado com tamanha opulência, num país que se afunda numa crise econômica sem precedentes, daí a sua justa indignação com a riqueza em torno do seu agora ex-presidente.
No Brasil, estimada Natalia Rudenko, as coisas não são muito diferentes. Ontem mesmo tomou posse um deputado na Câmara Federal, que é proprietário de um castelo de contos de fada, o qual foi omitido em sua declaração de bens à Justiça Eleitoral, o que, por si só, já gera suspeitas.
Mas o grave, Natalia, a meu ver, não é a opulência e a vaidade dos que enriquecem trabalhando honestamente. O grave e revoltante é a constatação de que esse tipo de opulência se faz, muitas vezes, com o dinheiro do povo, mesmo povo a quem o Estado nega quase tudo.
Mas aqui, Natalia, o povo parece adormecido, e quando sai às ruas, é desestimulado por uma súcia que só entende mesmo é de baderna.
Mas vamos evoluir. Um dia a casa cai e a coisa muda.
Um abraço fraternal de
José Luiz Almeida