Pessimista ou realista?

 

Todo mundo fala que, diante das vicissitudes da vida, devemos ser otimistas, no que concordo plenamente, já que sou sempre otimista, conquanto não deixe de ser realista. Contudo, dependendo da posição do intérprete, isso pode (o realismo), muitas vezes, ser confundido com pessimismo.
Vale ressaltar que ser otimista não significa fechar os olhos para realidade, a ponto de obliterar a mente, a ponto de alcançar a cegueira mental. E por maior que possa ser o envolvimento emocional, é necessário enxergar e interpretar a realidade, com os pés fincados no chão, sob pena de, em face de um erro de interpretação, ser o sujeito do conhecimento levado à percepção equivocada da realidade. Nesse cenário, ou seja, em face dessa simbiose sujeito/objeto do conhecimento/otimismo/pessimismo/realidade, não são poucos os que fazem uma enorme confusão.
Creio que, diante da vida, de tudo que está a minha volta, em face de tudo o que tenho vivido, tenho procurado perscrutar bem a realidade, razão pela qual tenho sido realista diante dos acontecimentos que permeiam a minha vida, o que não impede que alguns prefiram me ver como um pessimista.
Feitas esses breves considerações preliminares, devo confessar, realisticamente, que estou desalentado, contristado, sem esperança e, às vezes, revoltado, com o que tenho testemunhado em face da falta de compromisso e da seriedade de uma enorme leva de homens públicos, em todas as esferas de poder.
Por tudo o que tenho observado, e em face de tudo o que já testemunhei, não vejo, sinceramente, nenhuma ação sincera dos que disputam cargos e poder, assim como não vejo, ademais, sinceridade de propósitos. Por isso, custa-me crer nas promessas que fazem, e isso me deixa desalentado, desesperançado, sem vislumbrar um futuro melhor.
Diante desse cenário, fico sempre com a impressão de que os que estão no poder querem apenas tirar vantagens de ordem pessoal, admitindo, para não ser leviano, que nesse mundo ainda habitam raras, raríssimas exceções.
Vejo, desalentado, desde sempre, que a sofreguidão pelo poder que muitos exteriorizam, objetiva, claramente – e quase sempre -, a defesa de interesses personalíssimos ou, quando não, mas com a mesma gravidade, os interesses dos apadrinhados, ou seja, dos que compartilham as mesmas ambições. Ou será que alguém minimamente realista imagina que a disputa por cargos que testemunhamos decorre do afã de servir ou por espírito público?
A mim transparece claramente que, nessa disputa por cargos e poder, o que está em jogo mesmo são os interesses pessoais e corporativos, e a sensação que tenho, depois das repetidas, reiteradas decepções com os homens públicos do meu país, é que ninguém, de rigor, está preocupado com os destinos da nação, dos estados e dos municípios, reafirmando que existem exceções.
Observo, noutro giro, mas com igual desesperança, que os homens públicos que disputam cargos e poder, como avidez incomum, são os mesmos que não têm opinião formada sobre nada, já que mudam de lado, ou de agremiação, ou de opinião, como mudam de roupa, ou seja, ao sabor das circunstâncias.
Vejo, nos dias de hoje, os que estão no poder e os que estão fora da esfera de mando, circunstancialmente, se servirem dos mesmos discursos, dos mesmos argumentos que antes condenavam. É dizer: o discurso e a ideologia se esvaem ou se incorporam ou se esvaem e se reincorporam, de acordo com a posição que ostenta o ser mutante, ou seja, no poder ou fora do poder, o discurso e as práticas políticas ressaem ao sabor do momento, das conveniências e dos interesses pessoais, nem sempre coincidentes com o espírito republicano que deveria nortear as suas ações.
A verdade é que, desde a minha percepção e de grande parcela da população, ninguém está preocupado com o país, com o estado ou com o município, inferindo-se disso que, se determinada medida for do interesse pessoal do agente público, pouco lhe importam as consequências para o conjunto da sociedade.
Na seara pública, infelizmente, as coisas funcionam assim: passa-se a defender tudo o que se condenou numa determinada época, desde que isso seja conveniente aos interesses do agente. Tudo depende, pois, das circunstâncias, das conveniências políticas de cada um. Não há, lamentavelmente, espírito público. Também não há preocupação com as consequências das decisões para a sociedade.
O inimigo de ontem é o amigo de agora, se isso for conveniente aos interesses de cada um, e às favas os escrúpulos. Assim é que, se for para permanecer no poder, pouco importam as mentiras proferidas, pouco importam os ataques antes desferidos e/ou a honra maculada, pois, afinal, nesse panorama, os fins justificam os meios. Nesse jogo não há como distinguir o bandido de mocinho.
Fator previdenciário, gastos públicos, pedaladas fiscais, CPMF, desonerações, responsabilidade fiscal, impeachment, distribuição de cargos públicos, filas nos hospitais, inflação, desemprego, estradas destruídas, ruas esburacadas, violência, falta de leitos nos hospitais, enriquecimento ilícito, contas nos paraísos fiscais, esses fatos são interpretados, avaliados e condenados sempre ao sabor do momento, de acordo com os interesses em jogo.
Nesses e noutros temas, infelizmente, a posição que assumem são as que condigam com os interesses de cada um ou de cada grupo, convindo anotar, nessa linha de pensar, que, ao longo da minha vida, testemunhei muitos dos que hoje estão no poder lutando pelo impeachment dos que estão hoje alijados desse mesmo poder; testemunhei, da mesma forma, muitos que hoje votam contra o governo, lutarem, com a mesma tenacidade, a favor das medidas que hoje abominam, tudo de acordo com as suas conveniências, sendo de relevo anotar que as consequências dessas ações são, para eles, o que menos importam.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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