REDES DE INTRIGAS

Nessas reflexões, volto a um tema candente, sobre o qual já refleti outrora, depois de ter assistido – estupefato, mas sem surpresa – ao documentário O Dilema nas Redes, disponibilizado no serviço de streaming. E o faço levado pelo ambiente de radicalismo que se instalou no Brasil, com campo fértil de intrigas nas redes sociais, de onde despontam, em linhas opostas e inconciliáveis, os radicais de todos os matizes, incapazes de enxergar as virtudes dos que eles elegeram como adversários/inimigos, muitos dos quais destroçados, em sua dignidade e reputação, pela propagação de inverdades.

Antes, antevendo eventual incompreensão em face da minha condição de magistrado, a exigir de mim muito mais cautela e recato na emissão do pensamento, devo dizer que é insustentável pretender que um juiz não seja cidadão, que não participe de certa ordem de ideias, que não tenha compreensão do mundo, nem visão da realidade (Eugênio Raúl Zaffaroni, jurista portenho).

À guisa de registro, importa anotar, agora, que desde sempre, ainda nos bancos da Faculdade de Direito, localizada na Rua do Sol, década de 70, exponho, sem receio, a minha visão sobre os mais variados temas, sem nunca ter me permitido o direito à indiferença, por me recusar a ser um juiz asséptico e acrítico.

A verdade é que, compreendido aqui e incompreendido acolá, eu me mostro por inteiro, forte nas minhas inabaláveis convicções, razão pela qual tenho necessidade de expor o meu pensamento, como o faço agora, para dizer que, nos dias presentes, estamos carentes de um juízo de ponderação, de tolerância e de equilíbrio, sobretudo nas redes sociais, que se transformaram, sem olvidar do que elas têm de bom, em verdadeiras redes de intrigas e de propagação do ódio.

Confesso que, nos dias atuais, com tanta perfídia permeando as relações, da qual decorrem as malquerenças que encontram campo fértil nas redes sociais, me incomoda não escrever com mais liberdade, não deixar o pensamento fluir, não dar vazão aos meus sentimentos, disso resultando a compreensão de que os mais equilibrados têm o dever de repudiar a ação malévola e predadora dos odiadores que habitam as redes sociais, “que são uma subespécie de gente que ama odiar, adora achincalhar, se esmera no apedrejamento moral dos que ousam pensar de modo diferente do que pensam”(cf. Aos que Amam Odiar, in http//joseluizalmeida.com)

Nesse ambiente deletério, e por uma imperativa necessidade de autopreservação em face de ataques iminentes que podem vir de um lado ou de outro do espectro político mais fanatizado, eu me recuso, até, a opinar sobre temas de interesse público, para não dar vazão à paranoia que tomou conta do país, com a malfazeja divisão entre “os de lá” e “os de cá”, que leva os mais radicais a concluírem, sem base factual, que “os de cá”, ou seja, os que se alinham ao seu pensamento, estão sempre certos, e o que dele divergem – “os de lá”, portanto – assim o fazem porque são seres humanos de pouca ou nenhuma virtude; rebotalhos, enfim.

E assim, num ambiente no qual despontam os inconsequentes, tenho percebido que não são poucos os que, assim como eu, optam pela prudência, para, como anotado acima, não estimularem reações heterodoxas, muitas delas manipuladas, dolosa, maldosa e deliberadamente pelos que consomem os serviços das redes sociais.

Na defesa das minhas convicções, sou intenso, sim, mas com limites, máxime nos dias atuais, pelas razões acima expostas. Daí por que, nas minhas reflexões, imponho a mim mesmo um juízo de ponderação que, ao ensejo, concito o leitor a praticá-lo nas redes sociais, para distensionar o ambiente político, pois os discursos de ódio e as fake news são, sim, uma “ameaça à democracia” ( Felipe Campelo, cientista político, da Universidade Federal de Pernambuco), bastando, para essa compreensão, voltar os olhos às manifestações recentes com ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.