AOS QUE IDOLATRAM GENTE RUIM

Uma indagação inquietante nos dias presentes: Por que há uma legião de pessoas incapazes de ver os defeitos dos que escolhem para prestar vassalagem?  Com a mesma inquietação indago, ademais, por que há pessoas – e não são poucas – que idolatram gente ruim? E como explicar esse fenômeno entre as pessoas que enaltecem as pregações do Cristo Salvador?

No sentido das indagações supra e no afã de corroborá-las, testemunho, nos dias atuais, pessoas ruins sendo carregadas nos braços, aplaudidas tenazmente, ainda que, por serem ruins, demonstrem, sem disfarce, desamor ao próximo e desapreço aos ensinamentos daquele que pregou o amor incondicional ao irmão, o que, desde qualquer olhar, é uma contradição insuportável, a merecer detida reflexão.

 Importa anotar, nesse triste cenário, que o que testemunho hoje não difere em nada do que sempre foi a postura contraditória do ser humano, muitos dos quais com inclinação inexplicável para admirar pessoas de índole ruim.

Stalin, como tantas outras pessoas más, teve – e ainda tem – uma legião de admiradores, dentre eles pessoas de bem como Graciliano Ramos, cujo filho, Ricardo Ramos, afirmou tê-lo visto chorar em duas oportunidades: uma no suicídio do filho Márcio; outra, na morte do sanguinário ditador.

O jornalista Osvaldo Peraval também chorou quando foi divulgado o estado desesperador do mesmo Stalin, que ele considerava o amigo mais querido, como se o histórico de Stalin autorizasse alguém a crer, verdadeiramente, em sua amizade. O jornalista Moarcir Werneck de Castro, no calor da hora, a propósito da morte do ditador, escreveu: “Os povos choram a perda do maior dos homens”. No telegrama de pêsames, Luis Carlos Prestes, glorificou Stalin como “nosso mestre e guia”. Em 1951, Jorge Amado canonizou-o em vida, apontando-o como maior estadista, o maior general, aquilo que de melhor a humanidade produziu.

Só para fins de ilustração, a propósito das ações nefastas do genocida, Stalin matou mais comunistas do que Hitler e Mussolini somados, entre os quais – estimados 20 milhões – estavam dois presidentes do Komintern: Grigori Zinóviev e Nikolai Bukhárin.

Ademais, os registros históricos dão conta de que Stalin não tinha meros seguidores, mas fiéis, com espírito de rebanho. Daí a minha estupefação em face das homenagens prestadas  ao ditador, bem como a pessoas que, assim como ele, não têm apreço pelo semelhante,

É bem de ver-se, pois, à vista dos exemplos acima, que pouco importa para o fanático apoiador, seja de direita ou de esquerda, os defeitos dos que elegem  para seguir cegamente, pois a cegueira, que imagino deliberada, só lhes permite ver os defeitos dos que elegem como desafetos, o que condiz, também, com o comportamento de pessoas ruins.

A propósito de Stalin, um registro histórico relevante e ilustrativo para encerrar e para que as pessoas saibam que, mais cedo ou mais tarde, a conta chega.

Pois bem. Consta que no dia 1º de março de 1953, Stalin, tendo sofrido um derrame, teve o atendimento médico postergado, porque não havia um só especialista de renome para a tarefa de socorrê-lo. É que o tirano tinha mandado prender os melhores médicos de Moscou na KGB. Então, as sessões de tortura foram suspensas para que o algoz pudesse ser atendido. Mas não havia mais nada a fazer; quatro dias depois, o tirano estava morto.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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