A cada perda de um ente querido sou levado a refletir sobre a passagem intolerante do tempo, sobre a nossa fragilidade diante das doenças devastadoras, e, na mesma balada, sobre o exercício do poder, que vaidosos/insanos exercem sem limites, sem empatia e sem compromisso com a sua própria história.
Nessa toada, importa dizer, de primeira, que, em face do tempo e da consequente finitude da vida, só um tolo se ilude estando no exercício do poder, sobretudo se não se dá conta do julgamento da história, pois, como adverte o genial Caetano Veloso , quando tivermos saído do círculo, não seremos e nem teremos sido (Oração ao tempo), daí a relevância de, no poder, construir um boa trajetória.
Logo, é preciso ter bem presente que aquilo que se vive no poder é efêmero e, ainda mais grave, ilusório, pois, nos estertores, tendemos a desfrutar, tão somente, do convívio dos que verdadeiramente nos amam, se, claro, tivermos construído as nossas relações familiares sob os auspícios de um amor desinteressado, verdadeiro e incondicional.
A vida acelera e se esvai. E o tempo, capaz de proporcionar o prazer legítimo e o movimento preciso (Caetano Veloso, ibidem), é o mesmo que levará consigo as nossas conquistas materiais; menos, claro – e aqui reside o detalhe mais importante, daí a insistência da anotação -, a história que construirmos.
Portanto, é preciso estar preparado para o tempo que flui, o que nem sempre é perceptível aos olhos dos que, no poder, se perderam em face do seu desfrute, cumprindo relembrar, nessa balada, que com o passar do tempo, caído e fora do círculo, será como se nunca tivéssemos sido (Caetano Veloso).
Dessa forma, aquele que não prestar tributo ao tempo, e, no mesmo passo, ao tempo de fazer as boas ações, será surpreendido com a constatação de que só lhe restou, para ser administrada, quase sempre num ambiente de muita solidão, a ressaca moral e perversa em face do que não edificou e/ou do que fez sob os auspícios da insensatez e da falta de pudor, como o fazem – e fizeram – os lideres mundiais mais repugnantes e para os quais os sensatos emprestam apenas o seu desprezo.
Destaco, para ilustrar, a um naco da história construída por D. Pedro II, escorraçado do poder pelos militares, liderados pelo seu grande amigo Deodoro da Fonseca, o qual, indagado se não iria lutar para manter a coroa, respondeu apenas que se era essa a vontade dos seus patrícios, a ela se curvaria, diferente dos que são capazes de matar ou morrer para não deixar o poder, ainda que para isso precisem arrostar as instituições.
Do mesmo D. Pedro II, trago a segunda ilustração. Quando instado a receber uma pensão do Estado, após a sua deposição, respondeu aos que pretendiam lhe outorgar a benesse, que eles não podiam fazer cortesia com o que não lhes pertencia, já que a mesura seria feita com dinheiro público.
Convém não esquecer que mesmo os ditadores um dia deixam a ribalta – pela morte ou pelo golpe. Todavia, a sua história será sempre lembrada pelo mal que infligiram aos semelhantes e às instituições.
É preciso, pois, não perder de vista, e aqui tendo à exaustão, que a vida passa, que todos passamos e que a história não perdoará os que, no poder, podendo, nada fizeram de edificante; e quando o fizeram, o fizeram apenas e tão somente em atenção aos seus próprios interesses ou dos que estavam em seu entorno.
É isso.