A FELICIDADE NÃO É UMA OPÇÃO

Você sabia que a zebra, quando acorda, já o faz sabendo que tem que correr mais que o leão se quiser se manter viva, e que, de outro lado, o leão, todas as manhãs, acorda sabendo que deve correr mais que a zebra se não quiser morrer de fome?

Pois é. Todos os animais gastam energia com as suas necessidades.

Com o homem, portanto, não podia ser diferente.

De nossa parte, parcela relevante das nossas energias gastamos na busca da felicidade; felicidade, nada obstante, nem sempre alcançada, pelos mais variados motivos, me levando a conclusão de que a felicidade, definitivamente, não é uma opção, inobstante reconheça que há pessoas que, com suas ações, concorram para a sua própria desdita.

À vista da constatação supra, é de rigor a conclusão de ser um equívoco, uma singular falta de sensatez imaginar que alguém acorde pela manhã e decida que será, ou não, feliz, simplesmente porque não temos controle sobre o que pode acontecer em nosso entorno.

Na vida, é forçoso admitir, as circunstâncias se impõem, daí que, em face delas e a partir delas, podemos, ou não, alcançar momentos de plenitude espiritual, de consciência plenamente satisfeita, pelo que, a meu sentir, se equivoca quem afirma que a felicidade está ao alcance de qualquer um e que basta trabalhar em favor dela que tudo se resolve.

Numa visão, tanto quanto possível, racional da realidade, ninguém é infeliz porque almeje ser infeliz e ninguém é feliz apenas porque deseja sê-lo, a considerar que a realidade se impõe, em face da qual, muitas vezes, pouco ou quase nada podemos fazer.

Fosse possível escolher entre ser feliz ou infeliz, a vida não seria tão amarga para alguns, já que a cada um seria dada a opção de escolher o que melhor lhe aprouvesse; e o melhor que apraz a cada um de nós é ser feliz, estado de conforto mental cada dia mais difícil para uma expressiva parcela da população que despende grande parte de sua energia na tentativa de ao menos sobreviver.

A verdade é que vivemos num mundo tão complexo e tão impregnado de armadilhas que, não raro, ainda que não seja a nossa vontade, não temos escolhas diante das adversidades que a vida nos impõe.

Os fatos se sucedem e sobre eles a maioria de nós não tem controle, pelo que é de rigor a compreensão de que, na vida, nenhuma sensação de prazer é duradoura, nenhum bem-estar se perpetua, os momentos de contentamento são efêmeros e, nesse alvitre, nem sempre é possível a satisfação das nossas aspirações.

As relações que construímos, mesmo as que decorram de um sentimento verdadeiro, podem, sim, ser bombardeadas pelos acontecimentos, disso resultando que, o que nos proporciona felicidade nos dias presentes, pode nos levar a uma inaudita infelicidade nos dias vindouros, não deixando margem para outra solução que não seja seguir a correnteza.

Nessa perspectiva, importa concluir que, se a vida é uma sucessão contínua de fatos em razão dos quais não temos nenhum controle, nas relações interpessoais não é diferente, daí que não são poucos os que, mesmo vivendo em permanente conflito, são obrigados, pelas circunstâncias, a manter a relação pactuada, da mesma forma que há os que, conquanto movidos por um sentimento convergente, sublime e verdadeiro são compelidos a seguir por caminhos diversos, simplesmente porque, como dito acima, ser feliz não é, como muitos pensam, uma questão de escolha.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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