EMPATIA

Empatia não pode ser apenas um conceito.

Empatia, ou seja, a capacidade de sentir o que a outra pessoa sente, de compreender emocionalmente o ponto de vista e as ações das outras pessoas, só têm relevância se for além do seu conceito.

Mas a verdade é que, para muitos, empatia não tem relevância, na medida em que há muitos entre nós que se importam apenas com seus interesses pessoais, pouco importando se, em face deles, possa infligir sofrimento ao semelhante, à luz de uma lógica de vida daninha: “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

Compreendo, no entanto, que os empáticos fazem a diferença numa sociedade marcadamente competitiva, na qual vale mais o ter que o ser.

É preciso experimentar, pelo menos compreender, de forma objetiva e racional, o que sente o semelhante.

É necessário, sim, perscrutar, emocionalmente, o sentimento de quem de quem pensa diferente.

É de rigor, sim, tentar, pelo menos, ser racional com as atitudes das outras pessoas.

Compreendo que somente assim podemos construir uma sociedade movida por conexões comportamentais edificantes.

A empatia não pode ser pontual, circunstancial, conveniente; deve ser uma prática de vida.

As manifestações empáticas não devem ocorrer apenas diante das tragédias.

Posso dizer, por tudo que tenho testemunhado, que, nada obstante, os comportamentos empáticos têm sido uma exceção, bastando, para compreender a minha inquietação, voltar um pouco aos momentos mais tenebrosas da pandemia decorrentes da Covid, durante a qual vivenciamos, com estupor e revolta, situações que revelaram a face mais perversa alguns seres humanos, que vão do negacionismo nefando ao desvio de verbas públicas destinadas a combatê-la.

Tenho convicção, por essas e outras condutas de igual jaez, que, nos momentos mais desafiadores, muitos se revelam, desnudando o pior de sua alma.

Nesse sentido, é sempre estarrecedor testemunhar que há, sim, quem, despudoradamente, aproveite os momentos de dor proporcionados pelas tragédias para delas tirarem proveito.

Definitivamente, não foi pra isso que Jesus Cristo veio à terra; não foi essa a mensagem que deixou.

Me predisponho a refletir sobre o tema porque sou, sim, excessivamente empático, do tipo que assume as dores do semelhante, que se coloca no lugar de quem sofre em face de um infortúnio.

Sou do tipo que, em face de eventos magnos – terremotos, tsunamis, deslizamentos, fome etc – sou tomado de intensa aflição e sofrimento em face da dor infligida ao semelhante.

Nesse sentido, por força da empatia, eu crio, sem perceber, conexões emocionais muitos fortes com as outras pessoas, o que me faz concluir que somente a pessoa empática é capaz de fortalecer as relações interpessoais, na medida em que, sendo assim, tem mais capacidade de compreender o semelhante, diferente do que ocorre com as pessoas que consideram o ser humano é descartável.

As reações, as atitudes, o modo de encarar os conflitos, tudo, enfim, é diferente se o protagonista for uma pessoa emática.

O diálogo entre pessoas empáticas é, também, mais edificante, na medida em que o empático ouve com mais atenção e procura compreender, com mais sensibilidade, o que o outro tem a dizer

Sei, no entanto, que não é assim que a banda toca.

Há pessoas frias e insensíveis. E é em face da frieza e da insensibilidade de muitos de nos que chegamos onde chegamos, ou seja, num cenário em que as pessoas, em face de paixões desmedidas, torcem pelo insucesso e pelo sofrimento dos que elegem adversários/inimigos, revelando, assim, o lado mais perverso do ser humano.

Aliás, o sentimento que as pessoas nutrem pelos que elegem inimigos é tão forte que basta que ouse pensar diferente para que a falta de empatia se revele, na sua face mais perversa.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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