Se é verdade que a vida é uma escola, não é verdade, no entanto, que as pessoas estejam dispostas a aprender as lições que ela ministra.
Em face dos fatos da vida, a realidade mostra, fácil ver, que não são poucos os que, mesmo tendo levado bordoadas da vida, persistem cometendo os mesmos erros, infringindo as mesmas normas de conduta.
A constatação, nessa linha de compreensão, fruto da minha experiência de vida, é que as pessoas, como regra, aprendem apenas aquilo que lhes convém, daí que cometem erros, apanham da vida, lamentam o leite derramado, sucumbem em face dos erros, têm dificuldades de se erguer em face deles, sofrem as reprimendas que a sociedade impõe em face dos desvios de conduta, todavia, ainda assim, persistem errando, às vezes sob o pueril argumento de que errar é humano, como se estivéssemos autorizados a cometer sucessivos erros apenas e tão somente em face da nossa condição de seres humanos.
Fosse verdade que as lições que a vida ministra resultassem em mudança de comportamento, muitos não repetiriam os mesmos equívocos em face dos quais testemunharam o mundo se transformar em um moinho, triturando sonhos e reduzindo as ilusões a pó, como advertia o inesquecível Cartola.
A convicção de que a vida ensina, mas que nem sempre aprendemos as lições, está à vista de todos, bastando, para constatar a veracidade do que digo, olhar em volta, ou, indo além, revisitar a história, de onde vem as lições mais estupefacientes de que, com a escola da vida, nem sempre estamos dispostos a aprender, daí a reiteração de erros e de condutas equivocadas.
Para ilustrar, um exemplo que vem da escravidão, uma das páginas mais vexaminosas das muitas protagonizadas pelo ser humano em detrimento do semelhante.
Pois bem. O escravo José Francisco dos Santos conquistou a liberdade, depois de anos de trabalho forçado na Bahia, vendo-se livre da escravidão comprando, ao que tudo indica, a sua própria carta de alforria. É dizer, depois do inaudito sofrimento a que foi submetido pela sua condição de escravo – foi tirado de sua terra natal, jogado num navio e trazido amarrado para uma terra estranha -, finalmente “Zá Alfaiate”, como ficou conhecido, em face de sua profissão, estava livre.
Livre das agruras próprias da escravidão, esperava-se que “Zé Alfaiate” engrossasse as fileiras dos que lutavam contra o comércio de escravos.
O que fez, no entanto? Passou a operar o mesmo comércio do qual fora vítima, tendo, nesse afã, voltado à sua terra e se tornado um traficante de escravos, especulando-se se o fez por um desejo de vingança, na tentativa de repetir com outras pessoas o que ele próprio sofreu, ou se o fez, o que é mais provável, porque viu no comércio de escravos uma chance de ganhar dinheiro.
O certo é que, por um viés ou por outro, o que importa mesmo para essas reflexões, como o exemplo acima, é que de nada adiantou o sofrimento infligido a si e aos seus irmãos africanos, pois, livre, passou a agir em defesa dos seus interesses, a revelar o lado mais perverso do ser humano, para quem o que importa mesmo é seu bem-estar.
“Zé Alfaiate”, como muitos de nós, fez pouco caso das lições que a vida ministrou, a reafirmar o que eu disse no início dessas reflexões, ou seja, de que cada um aprende com a vida apenas as lições que convém aos seus interesses.
Não é por outra razão que não são poucos os que – examinando a questão, agora, sob a perspectiva do Direito Penal -, tendo cometido crimes e suportado as mazelas da prisão, voltaram a delinquir, o que me remete a Beto Guedes, segundo o qual “A lição sabemos de cor. Só nos falta aprender.”
É isso.