A ANGÚSTIA DA ACELRAÇÃO DA VIDA-PARTE I

Se me perguntarem hoje, 2 de julho, dia do meu natalício, quantos anos tenho, respondo que tenho os anos que me restam; os que vivi já não os tenho mais.
A certeza que tenho é que envelheci.
Há muito tenho a idade dos que têm prioridade nas filas de atendimento.
Daí a inevitável conclusão: a juventude de mim se distanciou; e, confesso, nem me dei conta, tamanha a rapidez.
Sobre a questão tenho agido de forma pendular: há momentos que sinto estar velho; há outros que me vejo fagueiro, altivo, projetando realizações para o futuro junto às pessoas que amo.
Tudo, porém, são confusões da minha mente, porque , afinal, envelhecer termina sendo um privilégio, daí que tento encarar a velhice com naturalidade.
Ou não?
Não sei.
Pode ser que sim; pode ser que não.
Compreendo que só em estar refletindo sobre a questão já evidencia que não encaro a velhice com a naturalidade que gostaria; e, se tento, não consigo.
Aquela história de que o tempo parece que não passou, para mim não cola.
O tempo passou, sim.
E como passou.
E como foi rápido.
E como deixou marcas em mim.
Vejo-as por toda parte: no rosto, nos braços, nas pernas…

Agora, vejo, também, as consequências da aceleração da vida na mente: minha memória, que nunca foi boa, está mais seletiva que nunca.
Não me desespero, porém, diante dessa realidade.

Será?
Nessa questão sou bem resolvido.
Será?
Nem eu mesmo sei por que faço essas afirmações ao tempo em que me questiono em face delas, pois quem me conhece sabe dos meus conflitos com a passagem inclemente do tempo.
Eu não sou bem resolvido nessa questão; preciso admitir.
Como não posso voltar no tempo, só quero mesmo é viver bem o tempo que me resta. E, numa perspectiva realista, não é muito, mas o suficiente, talvez, para desfrutar da companhia das pessoas que são revelantes da minha vida.
A verdade, e é fácil concluir em face dessas reflexões, é que eu só queria viver sem conflito com o tempo; conflito inevitável em face dos planos que ainda teimo em fazer para o futuro.
Vivo em conflito com o tempo, admito.
Mas não esqueço, entrementes, que foi o tempo que me fez realizar o que realizei. Foi o tempo quem me fez encontrar e conviver com pessoas especiais que dão sentido a minha vida.
Valeu então ter vivido tanto.
Importa indagar agora: fiz por merecer tantos anos vividos?
Creio que sim.
Mas admito que fiz menos do que podia ter feito.
Todavia, ainda assim, realizei alguma coisa.
Irrelevante a minha história?
Para mim, não.
Mas admito que devia ter sido mais audacioso.
Tempo é tempo e nada se pode fazer para impedir o seu curso.
Eu não posso, ninguém pode domar o tempo.
Quisera poder domar o tempo. Dizer: espera um pouco. Eu ainda tenho muito coisa importante para fazer.
Mas, contraditoriamente, penso comigo: pra quê parar o tempo se as coisas são como são, se o destino está traçado?

Destino?

Bem, essa é outra questão.

Não dá pra misturar as coisas.
O melhor mesmo é aceitar que o tempo flua e entender que é assim mesmo que tem que ser.
E que cada um saiba viver o seu tempo, o seu momento, a sua história, afinal somos os únicos responsáveis pelas escolhas que fazemos.
O natural mesmo é viver e ver o tempo passar.
O hoje será, inevitavelmente , o ontem e o amanhã, a Deus pertence.
E eu, se possível, viverei mais algum tempo para testemunhar o que virá.
Apesar da idade, eu vivo a perspectiva do que virá, sim, ainda que saiba que existe uma grande possibilidade de não viver o porvir.
Até quando posso esperar para viver o que espero que um dia virá ?
Não sei.
Só sei que não tenho muito tempo de espera; e isso me aflige.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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