A importância do progenitor na formação moral dos filhos

Em uma das muitas reflexões que fiz, em face da violência que se esparrama por toda sociedade, anotei que 08(oito), em cada 10(dez) acusados, foram “criados” e “educados” apenas pelas mães, tendo em vista que os progenitores os abandonaram, muitas vezes imediatamente após a notícia da gravidez, entregando a elas, mães, a tarefa de, solitárias, enfrentando todas as adversidades, educar os filhos e prover-lhes assistência material. Essa tarefa, convenhamos, é das mais difíceis nos dias atuais, em face da realidade que vivemos, onde imperam, a olhos vistos, a licenciosidade, a permissividade, a perversão e o desregramento. Decorre desse quadro que as mães, em função da dupla – às vezes tríplice – jornada de trabalho, aos poucos, à proporção que os filhos crescem, perdem o controle de suas ações. Dissimulados, muitas vezes, suscetíveis às injunções exteriores, quase sempre, os jovens vão se entregando aos “prazeres” do mundo em que vivem, até que, finalmente, se envolvem com o uso de drogas e outras ilicitudes. Para manter o vício e outros prazeres que o mundo de consumo lhes acena, os jovens, no limiar da adolescência, vislumbram, como alternativa, o afrontamento da ordem pública, muitas vezes assaltando e furtando, até que, um dia, são jogados em um cárcere fétido e desumano, para serem barbarizados, aviltados, desrespeitados em sua dignidade.

Nesse contexto, repito, as mães, em face de sua condição de única provedora da casa – de educação e de sustento material -, perdem, não raro, o controle das ações dos filhos, para, algum tempo depois, serem surpreendidas com a notícia do envolvimento deles com a prática de crimes, crimes que os levam, celeremente, à sucumbência moral

Para exacerbação desse quadro, não tenho dúvidas, contribui, sim, a falta da autoridade paterna, para dividir com as mães a responsabilidade pela educação e sustento dos filhos.

As mães, surpreendidas com a notícia do envolvimento dos filhos com o uso de drogas e com a criminalidade, se vêem obrigadas a adicionar à sua tríplice jornada de trabalho, sofridas, desditosas caminhadas pelos corredores do fórum e das delegacias de polícia, em busca da liberdade dos filhos, se perguntando onde foi que errou.

Na tenacidade, na busca frenética e incessante para alcançar a liberdade dos filhos, as mães, em contato com a triste realidade que se descortina sob seus olhos, são, não raro, surpreendidas com a constatação de que seu filho é mais uma vítima do uso de drogas e de outros vícios igualmente degradantes. As mães, ao se defrontarem com essa perversa e doída realidade, sucumbem, desmoronam ante a evidência de que seu filho não é mais o inocente e indefeso que pensava ser.

O quadro acima retratado, na minha visão, poderia ser diferente, se a gravidez fosse planejada e se a presença paterna fosse uma realidade, dentre outros fatores. Não tenho dúvidas de que a ausência do progenitor contribui, decisivamente, para esse triste quadro. A presença paterna, ao lado da mãe, ministrando doses diárias de retidão, de caráter, de probidade, de autoridade contribui, induvidosamente, para formação do caráter dos filhos.

A verdade é que o mundo lá fora é muito sedutor, por isso mesmo devemos acompanhar, com sofreguidão, os passos, as andanças dos nossos filhos. Não se pode, pura e simplesmente, entregar ou permitir que os nossos filhos sejam entregues à sedução das drogas, das bebidas e do dinheiro fácil. Mas esse controle, repito, tem que ser exercido pela mãe e pelo progenitor. A mãe, sozinha, definitivamente, pouco, ou quase, nada pode fazer.

A família, tenho a mais absoluta convicção, exerce papel decisivo no combate à criminalidade e, de conseqüência, à violência. Nada é mais sagrado e mais importante que a família. Os pais têm que ser o primeiro e mais importante paradigma dos filhos. Os pais, quando têm conduta exemplar, incutem nos filhos o compromisso de que sejam, também, exemplares.

Sob qualquer ótica que se examine a questão, a família tem, sim, especial relevância na formação do caráter dos filhos. A família tem que ser a mais importante influência, o mais presente e mais significativo exemplo para os filhos. Se a família esmaecer nessa tarefa, o mundo exterior passa a comandar as ações dos nossos filhos. Mas a tarefa de educar e de formar o caráter dos filhos não pode ser deferida, devo reafirmar, apenas às mães. Os progenitores , nesse contexto, têm papel relevante, sobretudo nos dias atuais, em que os filhos são abastecidos, todos os dias, todas as horas, dentro de sua casa, com maus exemplos de muitos agentes públicos – e com a quase certeza da impunidade. Esses maus agentes transmitem aos nossos filhos, suscetíveis que são a toda e qualquer influência exterior, a sensação de que vale à pena infringir, afrontar, espezinhar, negociar a honra e o caráter. Nos dias atuais, onde se vê prevalecer a esperteza e a malandragem, a união de esforços dos pais é a pedra de toque na formação dos filhos. Os nossos filhos, sujeitos às injunções deletérias do mundo exterior, necessitam de um antídoto eficaz, traduzido no bom exemplo dos pais. Os nossos filhos não podem ficar ao sabor apenas dos maus exemplos que aportam em nossas casas, diariamente. Os nossos filhos não podem crer que vale a pena ser desonesto, que vale a pena ser bandido Mas essa tarefa, repito, não pode ser entregue apenas às mães. Os progenitores, tenho convicção, têm um papel mais do que relevante na formação do caráter dos filhos.

 

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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