O preço que se paga por ser diferenciado.

Definitivamente, não é fácil viver numa corporação. A vida de qualquer profissional se torna ainda mais difícil numa corporação, se ele, por infelicidade, tiver um pouco mais de lucidez que seus pares – pares invejosos, registro. Se ele for do tipo diferenciado, ta ferrado! É do tipo que gosta de trabalhar? Então, tem que suportar a pressão. É do tipo que se esmera para fazer o melhor possível? Pois tem que pagar um preço alto por isso, afinal, é proibido, numa corporação, não ser medíocre, estar acima da média, ser voluntarioso, arrojado, destemido. Dedicação? Audiência pela manhã e pela tarde? Isso parece um pecado capital numa corporação.

 

Tenho sido vítima de uma sórdida perseguição, quiçá por ser, sim, diferenciado. Minhas sentenças não são iguais a de todo mundo. Meus despachos também não são comuns. Informações em face de habeas corpus? Não as presto como todos. Sempre fui de fugir do lugar comum. Isso, sei, incomoda.

Faltam condições de trabalho? Diferente de muitos, não me acomodo. Cobro mesmo! E, nessas cobranças, sou, às vezes, insolente, rabugento, indelicado. Diferente de muitos, não me satisfaz receber sem trabalhar. Eu quero produzir! Eu quero ser útil à sociedade. Eu não sou parasita do estado.

Não me perguntem quem me persegue porque, no momento, não posso dizer. Mas um dia todos saberão o que tem sido feito para me prejudicar. Ninguém perde por esperar. Não tenho nenhum projeto de vingança. Não é meu feitio. Farei questão, no entanto, de denunciar o que estão fazendo. Os meus algozes não triunfarão impunemente.

Nos últimos tempos tenho carregado uma cruz pesada. Essa cruz tem nome, sobrenome e endereço. Não vou declinar agora nenhuma coisa e nem outra, porque poderei pagar um preço alto pela ousadia.

Os meus algozes de hoje esquecem as voltas que o mundo dá. Muitos que me perseguiram, que me fizeram mal no passado, que prejudicaram a minha carreira, hoje andam pelas ruas como um trapo humano. Muitos que lhes davam tapinhas nas costas, hoje dobram esquinas para não ter que cumprimentá-los. Eu, como nunca fui hipócrita, não preciso dobrar esquinas, pois, em verdade, nunca fiz sala para eles, nunca fui de tapinhas nas costas. Não é meu feitio o puxa-saquismo. O que faço mesmo é trabalhar, trabalhar e trabalhar. Se mais não faço é porque me faltam condições.

Nos dias atuais, repito, há alguns mal-intencionados que estão fazendo de tudo para me prejudicar. Eles não perdem por esperar. Não é vingança, não. Não sou homem de vingança, repito. Eu só faço esperar as voltas que o mundo dá. Tempos atrás houve pessoas que armaram um projeto de vingança contra mim. Esses todos sabem como viveram (?) depois.

Tenho dito que enquanto trabalho, os meus algozes me perseguem, me apunhalam, fazem tudo para me prejudicar. Eles têm esperança que, um dia, me rejeitarão numa promoção por antiguidade. Eles acham pouco o que já fizeram comigo. Mas não tem problema. Vamos ver, depois, que vai se divertir com tudo isso. Eu tenho muita paciência. Eu vou esperar. Devagar se vai longe. Não tenho pressa. Eu só preciso de saúde. O resto eu tenho. Sou destemido, gosto de trabalhar, tenho inteligência para enfrentar os meus algozes. Quanto mais me perseguem, mas me estimulam, mas me encorajam.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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