Formação moral sedimentada

Eu não fui criado num mundo de trapaça. Meu pai era muito correto. Um dia ele estragou tudo, é verdade. Fez uma bandalheira inominável. Mas o que eu tinha de assimilar de positivo já estava sedimentado. A trapalhada que ele fez não teve repercussão na minha personalidade.

Minha mãe, a exemplo do meu pai, também sempre foi muito correta. Todas as pessoas que estavam – e estão – em minha volta eram – e são – corretas. Tinham – e tem – que ser corretas, pois em torno de nós não havia – e não há – espaço para traquinagem, para safadeza, para ignomínia.

Eu fui criado – e crio meus filhos – sob determinados princípios que eram – e são – verdadeiros dogmas. No meu mundo a palavra empenhada era – e é – tudo. A dívida contraída era – e é – para ser paga. O compromisso assumido era – e é -para ser honrado. A hora marcada era – e é – para ser obedecida. Não tinha – e não tem – essa de vou chegar atrasado porque sei que quem marcou o compromisso comigo também vai se atrasar.

Por ter sido criado dessa forma e por ter assimilado esses ensinamentos é que tenho muita dificuldade para conviver com canalhas, com pessoas impontuais, com pessoas que não honram a palavra dada, o compromisso assumido.

Eu sou assim. Não pretendo mudar. Mas dizem que o poder corrompe e faz mudar. Até os mais empedernidos vestais, dizem, sucumbem diante do que o poder pode oferecer. Será?

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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