As farras com o dinheiro público

Confesso que sempre que sou informado da destinação de mais verbas para os municípios sou tomado de muita raiva, de indignação, de revolta. É que, todos sabem, parte das verbas destinadas as prefeituras é, via de regra, desviada. Elas só têm servido mesmo para enriquecer meia dúzia de gatunos.

A verdade, pura e simples, é que os dilapidadores do dinheiro público nada temem. São viciados. São insensíveis. São descarados. São capazes de qualquer coisa para alcançar o dinheiro público. Felizmente, uma vez ou outra, para nos alentar, surge uma operação rapina. Nessa hora é que se vê como são descarados determinados homens públicos.

Sonho, almejo, com sofrequidão, com o dia em que essa rapinagem pelo menos arrefeça, pois é triste pagar tanto imposto e não ver o nosso dinheiro traduzido em benefício da sociedade.

É muito desigual viver numa sociedade de consumo com esses bandidos.

 

Enquanto nós que vivemos limitadamente com o que ganhamos e somos obrigados a fazer malabarismos com o nosso dinheiro para ver se chegamos ao final do mês sem usar o cheque especial, esses rapineiros não têm limites, não têm pudor , não têm escrúpulos – e, parece (?), não têm honra.

O que tenho assistido no dia-a-dia é que os canalhas – resguardadas as exceções – assumem hoje os destinos de um município miserável, prenhe de indigentes, para, pouco tempo depois, desfilaram seus carrões, sob o olhar contemplativo dos órgãos responsáveis pela fiscalização. Nesse passo são omissos o Ministério Público, as Câmaras Municipais, os Tribunais de Conta e o Poder Judiciário, órgãos que, nesses casos, ao que parece, são mera ficção.

O pior, o mais grave, o mais triste, o mais dramático, o mais revoltante, o mais lamentável é que as pessoas encaram essa roubalheira como algo normal. Ninguém se surpreende mais quando o pobre de ontem se apresenta como novo rico, depois de ascender ao poder. E tudo muito rápido, sem demora, sem vergonha, sem constrangimento. Os vendedores de qualquer loja, de qualquer revendedora, de qualquer corretora, de qualquer boteco quando sabem que o cliente é um prefeito municipal, ou o filho do prefeito, ou a mulher do prefeito, ou secretário do prefeito, ou o tesoureiro do prefeito, ou contador do prefeito, fazem a festa; sabem que o dinheiro corre fácil, sabem que farão um bom negócio. É que o dinheiro surrupiado das prefeituras favorecesse a gastança sem limites.

O que assistimos no dia-a-dia, com certa regularidade – às vezes estupefatos, outras vezes conformados – são os gestores municipais usar o talão de cheques das prefeituras como se fosse de sua conta-corrente – descaradamente, às escâncaras, à vista de todos, em enleio.

Diante dessa triste e lamentável realidade é forçoso convir que não haverá bons hospitais e bons postos de saúde para atender às necessidades básicas da população carente. Boas estradas continuarão sendo um utopia. A escola pública continuará sendo uma falácia. O pobre, o desvalido continuará sendo tratado como se fosse cidadão de terceira classe.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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