Apenas um retrato na parede

 

Todos assistimos, estarrecidos, a luta que se trava quando se aproxima – ou mesmo antes – a sucessão nos três Poderes. A luta levada a efeito é renhida e não dispensa expedientes questionáveis, escusos, abomináveis. Pelo Poder (stricto sensu) e em face do poder (lato sensu), mesmo os que posam de vestal saem do prumo – se excedem, não raro. 

A história está prenhe de fatos que corroboram as afirmações supra. Não preciso, pois, citá-los. Muitos são os que descem ao chão, fazem qualquer acordo, negociam a honra, em nome do poder . Isso é fato.

Estou a cavaleiro na análise dessa questão, porque nunca fui de lutar pelo poder a qualquer custo, sob quaisquer condições, encilhando qualquer tipo de arma. 

 

Sempre fui um idealista. Sempre que me predispus a lutar por um fragmento de poder, o fiz em nome desse ideal. Nunca disputei o poder sob qualquer condição.

Nunca, por exemplo, postulei ser membro da Corte Eleitoral do Estado, por entender que não seria capaz de exercer aquele naco de poder, sem me incompatibilizar com muitos. É que, irascível, malcriado – às vezes, radical – não sei fazer determinados tipos de concessões.

Releva anotar, para que não se faça uma análise equivocada das reflexões que faço, que pretender a direção de um Poder é mais do que legitimo. Eu não condeno a busca do poder. O que condenado são as negociações que estão por trás da ascensão e, de conseqüência, o que se é capaz de fazer para ascender ao Poder.

A ambição pelo poder, sabe-se, é própria dos homens. O que acho deplorável e criticável são os meios para se alcançar esse fim e, depois, em nome desse fim, o que se é capaz de fazer.

Compreendo que a conquista do poder não pode prescindir dos princípios morais. Não vale, na minha ótica, o uso de qualquer expediente para ascender. Digo mais: o acesso ao comando de um Poder não pode ser por mera vaidade. Dirigir um Poder, em nome de muitos, deve ir além do retrato fixado na parede e das benesses que decorrem do seu exercício.

Quem age apenas sob perspectiva de ganhos pessoais em face do Poder que exerce, faz muito mal à instituição que dirige. Quem faz do exercício do poder apenas um meio para desfilar a sua vaidade merece o repúdio de todos os que têm o mínimo de ética a motivar as suas ações.

Aquele que pensa que a história lhe rendera homenagem, apenas porque logrou colocar o seu retrato na galeria dos que lhe antecederam, comete um grave equívoco e terá, inelutavelmente, a condenação da história.

Exercer o poder é muito mais que um mero exercício de vaidade, repito. O exercício do poder público vai muito além da distribuição de cargos e honrarias aos acólitos. Exercer o poder público em benefício de uma instituição vai muito além da bajulação.

Aquele que ascende a direção de um Poder, não deve agir para escarnecer os pretensos adversários, para perseguir quem não comunga de suas idéias.

Exercer o poder público, releva anotar, é muito mais que se regozijar com as mordomias que o cargo pode oferecer.

Quem exerce o poder imaginando que será honrado apenas porque o seu retrato permanecerá afixado na parede, comete um grave equívoco. Se não for digno do poder que exerceu, passará para história, seguramente, apenas como mais um oportunista.

Exercer o poder público é bem servir ao interesse público. Exercer o poder com honradez e respeito, é renunciar, é abdicar das vendetas pessoais, das perseguições, das idiossincrasias.

O poder bem exercido é entrega, é dedicação, é perseverança, é tratar a todos da mesma forma, sem qualquer tipo de discriminação. No exercício do poder não vale o apotégma “farinha pouco, meu prisão primeiro”.

Quem exerce o poder de pensando em dele se servir ou para, a partir dele, servir aos amigos, não será lembrado com respeito, ainda que na galeria destinadas às fotografias se destaque pela beleza física ou pelos retoques proporcionados pela computação.

Quem exerce o poder pelo poder, não representará para historia da instituição a quem pertence além de um simples retrato na parede.

 

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em “Apenas um retrato na parede”

  1. Dr. José Luiz,
    É uma honra para a comunidade jurídica maranhense ter o senhor como contribuinte da nossa elevação cultural, através desta ferramenta democrática.
    Parabéns.
    Na oportunidade, indico a visitação de nosso blog Maranhensidade Jurídica, através do caminho: maranhensidadejuridica.blogspot.com
    Um abraço,
    Rubem Lima de Paula Filho
    Seu ex-aluno e Juiz Federal na Seção Judiciária do Maranhão

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