Morrer pela pátria? Quem se candidataria?

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“…Observe, prezado leitor, que o meu argumento decorre, tão-somente, dos péssimos exemplos que nos dão alguns homens públicos do nosso país. A minha análise, portanto, é restrita e sem nenhuma base científica, mesmo porque com ela pretendo, tão-somente, fazer pensar, provocar, instigar, refletir, chacoalhar, causar turbulência mental, tirar do estado de letargia as nossas elites, que, ao que posso ver, parecem entorpecidas diante de tantos descalabros protagonizados pelos homens públicos do nosso país, os quais têm deixado transparecer que não têm nenhum apreço pela pátria, o que nos faz supor – de forma equivocada, claro – que, diante de uma adversidade envolvendo a nação brasileira – ataques de forças alienígenas, por exemplo -, agiriamos de modo diverso do americano, ou seja, não nos mobilizariamos em defesa de nossa pátria…”

Juiz José Luiz Oliveira de Almeida

Titular da 7ª Vara Criminal da Comarca de São Luis, Estado do Maranhão

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No dia 07 de agosto de 1941, os Estados Unidos da América foram atacados, em Pearlm Harbor, Havaí, por forças navais do Império do Japão. O Japão, portanto, violara, de forma acerba, o solo norte-americano.

Ao tempo em que as forças norte-americanas no Pacífico permaneceram temporariamente atordoadas em face do massacre, os jovens americanos ferviam por vingança. Vários desses jovens, impulsionados por esse sentimento, decidiram se alistar e somar esforços para se vingarem em face da ação japonesa. Eles não se permitiam ficar inertes diante desse fato. Centros de alistamentos foram inundados pela massa de jovens americanos querendo se alistar. O país saía, assim, do estado de letargia provocado pela grande Depressão. Todos queriam ajudar. Todos queriam defender a sua pátria.

Diante dessa reação cívica, em face da ação do Império Japonês, resta indagar: Por que será que o americano se agiganta, em situações tais, na defesa de sua pátria? Será que, em situação semelhante, o brasileiro também sairia da inércia? O amor que o brasileiro tem por sua pátria é comparável ao amor do americano pelos Estados Unidos?

A considerar – se fosse esse o único parâmetro, claro – os maus exemplos de vários dos nossos homens públicos, a sensação que tenho é que o brasileiro não moveria uma palha, não chutaria um sapo morto, em defesa de sua pátria; agiria, sim, se fosse em defesa dos seus próprios interesses.

Essa é a sensação que tenho diante de tanto descalabro, de tanta pantomima, de tanta falta de pudor, de tanta patifaria no exercício da atividade pública.

Observe, prezado leitor, que o meu argumento decorre, tão-somente, dos péssimos exemplos que nos dão alguns homens públicos do nosso país. A minha análise, portanto, é restrita e sem nenhuma base científica, mesmo porque com ela pretendo, tão-somente, fazer pensar, provocar, instigar, refletir, chacoalhar, causar turbulência mental, tirar do estado de letargia as nossas elites, que, ao que posso ver, parecem entorpecidas diante de tantos descalabros protagonizados pelos homens públicos do nosso país, os quais têm deixado transparecer que não têm nenhum apreço pela pátria, o que nos faz supor – de forma equivocada, claro – que, diante de uma adversidade envolvendo a nação brasileira – ataques de forças alienígenas, por exemplo -, agiriamos de modo diverso do americano, ou seja, não nos mobilizariamos em defesa de nossa pátria.

Ainda bem que nós, brasileiros, homens comuns, somos, por formação, muito mais tendentes a seguir os bons que os maus exemplos. Fosse diferente, estariamos perdidos, definitivamente.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em “Morrer pela pátria? Quem se candidataria?”

  1. Prezado Dr. Zé Luiz,
    Somos, de fato e tristemente, um povo incapaz de reagir a qualquer ameaça coletiva. Se uma força estrangeira invadisse hoje um pedaço da amazônia brasileira, dificilmente haveria voluntários para repelir tamanha agressão, exceto os próprios militares no dever de ofício.
    Não temos uma identidade cultural, temos uma leniência odiosa ao jeitinho. Somos um povo que cultua a corrupção e que idolotra pessoas de biografia duvidosa. Não vamos ser nunca uma potência! Nossa independência foi comprada, nossa república foi proclamada sem que nenhuma gota de sangue, suor ou lágrima fosse derramada.
    Essa é o complexo de borboleta que nós temos. Pra que voe fortemente, é necessário que a deixe vencer o casulo sozinha. Tudo isso fizeram por nós. E sem luta, não há glória, porque comprada.
    Lembra da frase “no noticiário da Globo, o mundo está um caos, mas o Brasil está em paz”? Assim definiu o golpista Emílio Médici, mas ilustra muito bem o formato de povo que somos.
    Esse é o ‘prazer’ de ser brasileiro, de fingir que está tudo bem, cada qual preocupado com o seu, deixando como está, pra ver como fica.

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