Mudando a conduta

Quem trabalha comigo sabe que recebo todas as pessoas que me procuram. Por mais ocupado que esteja, nunca deixo de atender a um advogado, um promotor de justiça, um delegado, um funcionário ou a qualquer outra pessoa. Sem discriminação. Com a mesma atenção. Sempre agi dessa forma. A porta do meu gabinete sempre esteve aberta – literalmente aberta. Quem entra na sala de audiências, que fica ao lado, se depara logo comigo. Não me isolo, não me julgo superior. Não sou melhor que ninguém e tenho convicção de que exerço uma função pública e, por isso, tenho o dever de atender, de escutar e de procurar solucionar o problema – ou a aflição – de quem me procura.

Sempre entendi que quando um jurisdicionado procura um juiz em busca de uma palavra, de um alento, de uma informação, ele já foi ao padre, ao vereador, ao delegado, ao deputado, ao vizinho, ao amigo. O juiz é a última opção. Por isso que quando alguém me procura, não deixo de atender. E tem mais. Na minha Secretaria – antigo Cartório – ninguém sai sem uma informação. É proibido deixar alguém ir embora para voltar no outro dia em busca de uma informação que se podia dar naquele momento. É assim que agimos todos na 7ª Vara Criminal.

Os que trabalham comigo e que lêem meu blog, sabem que não estou blefando. Os advogados, os promotores de justiça, os defensores públicos que também tem acesso a meu blog e que conhecem o meu trabalho, sabem que estou falando a verdade.

Apesar de sempre ter agido assim, estou propenso a mudar a minha conduta, pelo menos em relação aos parentes de acusados. É que eles, emocionados, apaixonados, tendem a deturpar o que se fala e, muitas vezes, são, até, deselegantes.

Ainda recentemente a mãe de um acusado insinuou que se eu não o colasse em liberdade, ela morreria, porque tinha um problema no coração, que estava se agravando em face da manutenção da prisão do seu filho. Essa mesma pessoa me responsabilizou, até, pelas privações pelas quais passam os filhos menores do acusado.

É dizer: o cara assalta, à mão armada, e, aos olhos da mãe dele, o responsável pelo seu estado de saúde e pelas privações dos netos, sou eu, que ousei mantê-lo preso.

Confesso que essa senhora me desastabizou emocionalmente, eu perdi a manhã por causa dela.

Confesso que a conduta dessa mãe me fez rever meus conceitos. Depois de muitos anos, agora compreendo que os colegas que não recebem as partes têm uma certa razão.

Vou tentar, sinceramente, receber apenas os advogados. A minha experiência recebendo os parentes dos acusados não tem sido boa. Não raro até eu me emociono. É muito sofrimento. É muita dor acumulada, em face da prisão de um réu. Se deixar, os parentes dos acusados terminam por concluir que os verdadeiros réus são as autoridades que mantém presos os seus entes queridos.

 

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

2 comentários em “Mudando a conduta”

  1. dr j. luiz, não me leve a mal, porem, existe um velho brocardo que diz que 50% doz juízes pesnsam que são Deus, os outros 50% têm a certeza que são.infelizmente,há casos que ratificam tal máxima, contudo, não devemos jamais generalizar, pois em todo segmento existem bons e maus profissionais. certo é que precisamos separar o joio do trigo, para não cometermos iniquidades, não é? pelo que venho acompanhando de seu trabalho, o sr, por exemplo, vem demonstrando ser um juiz que serve de exemplo para os demais, bem como a todo aquele estudante de dt cheio de sonhos q um dia pretende chegar a magistratura. o sr prima pela retidão e, sobretudo, pela busca incessante da justiça, embora qundo no mundo atual tais virtudes parecam ser inatingiveis, em face de tanta corrupção e promiscuidade perpetradas por alguns agentes politicos que abusam do cargo ou da função que exercem. o sr sabe bem manter uma postura firme e decente diante de alguns óbices impostos por individuos que insistem em lançar mao de subterfugios nefastos, atraves da politicagem e poder de influencia, para alcançar realização de seus propositos. por isso, digo-lhe que quando o homem, mesmo de tais situações e da propria falibilidade peculiar a sua natureza, busca a justiça como ideal de vida, com tanta avidez e perseverança, como é o seu caso, ja é digno do respeito dos demais. seu modo de desempenhar sua ativdade jurisdicional tmb é notada na secretaria da 7ª Vara,pq todas as vezes em que la estive sempre fui atendido de maneira cortez e atenciosa pelas pessoas que ali trabalham e pelo sr tmb q sempre me tratou com respeito. pena q tal atendmento e comprometimento não e percebido em outros locais e por outros magistrados. q Deus abençoe a todos vcs!!!!!!!!!!!!!! abçs de um homem tmb q sonha com um mundo mais justo e igualitário.

  2. adorei suas colocaçoes que Deus continue te abençoando fazendo do sr esta pessoa maravilhosa de espirito que o Sr e.

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