Depondo as armas, desarmando o espírito, aquietando a alma…

Todos me perguntam sempre a mesma coisa, quando se divulga que haverá mais uma promoção para a Corte do Tribunal de Justiça do Maranhão. As perguntas são sempre as mesmas: e aí, doutor, agora dá? Chegou a sua vez? Por que o senhor nunca é promovido?

Em face da repetição dessas indagações, confesso que, às vezes, me agasto. É que a mim me parece que as pessoas estão mais preocupadas com a minha promoção que eu e meus familiares. Mas, ainda assim, respondo a todos com a mesma educação, com a mesma polidez.

O que eu gostaria que as pessoas soubessem é que, diferente do que se possa pensar, eu não renuncio às minhas convicções para alcançar uma promoção por merecimento, eu não estou disposto a transigir para ser promovido por esse critério. As pessoas precisam saber que não trabalho com os olhos voltados para promoção. O trabalho que desenvolvo é, tão-somente, a contrapartida que devo dar em face dos meus estipêndios, em face das minhas convicções, em face do meu espírito de julgador.É claro, é cediço, é flagrável que quem se comporta como eu, quem não tem medo de expor as suas idéias, quem age sem ter medo de ser mal entendido, quem não tem receio de discordar, quem teve a coragem, enfim, de renunciar, publicamente, a uma promoção por merecimento, não pode, agora, viver em função dela. Seria uma rematada tolice. E tolo não sou.

É por essas e por outras que sequer me inscrevo para promoção por merecimento. Tenho a mais nítida convicção de que a minha promoção só dar-se-á por antiguidade, máxime agora que sou o decano da capital.

Mas que fique bem assentado: não tenho mágoas de ninguém, não tenho o espírito vingativo, não preparo nenhuma vendeta. O que desejo é, tão-somente, em sendo promovido, realizar o meu trabalho com sofreguidão, como, afinal, sempre fiz.

As pessoas imaginam, porque eu tenho uma personalidade forte, que vou pegar em armas para enfrentar os meus algozes. Ledo engano! Vou trabalhar, sim, para por em prática as minhas idéias, as minhas mais firmes convicções, sem me importar se possa, em face delas, desagradar quem pense de formar diferente.Tenho dado inúmeras demonstrações, nos últimos temos, que estou, há muito, depondo as armas, descarregando o espírito, aquietando a alma, para, no dia que chegar ao Tribunal, não ter que estabelecer um clima de guerra. Se pensasse e agisse de outra forma, magistrado não seria.

Sei que há quem pense diferente. Todavia, os que estão apostando que vou de espírito armado vão quebrar a cara. É só esperar para ver.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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