Abominando – e espinafrando, quando possível – os espertalhões.

No mundo em que vivemos as pessoas imaginam que só é sabido quem sabe levar vantagem, quem sabe tirar proveito da ocasião, quem ludibria, quem passa as pernas no semelhante.

No dia-a-dia, nos mínimos detalhes, nas mais elementares circunstâncias da vida, a gente observa que há muitos que acham – e agem como se fossem – que são mais espertos que os outros. Esses espertalhões estão sempre na espreita para ludibriar, para passar a perna em alguém. E se regozijam quando trapaceiam, quando tiram proveito de uma situação.

Ainda recentemente, antes de me submeter a suas cirurgias, tive um entrevero, na ante-sala do anestesista, com uma cliente dele, que, esperta, julgando-se mais sabida que os outros, valendo-se da ausência da secretária do médico, entrou na frente de todos os que, como eu, já esperavam para ser atendidos há mais de três horas.

Depois de passar na frente de todos, tendo acabado de chegar, a oportunista ainda entendeu que devesse abusar da paciência do médico – além da de nos outros, claro – , permanecendo na sala por quase quarenta minutos.

Sentindo-me lesado, desrespeitado, esperei, avidamente, que ela saísse do consultório, para chamá-la de oportunista. E o fiz, efetivamente, na frente de todo mundo, inclusive do médico, que não teve outra alternativa que não me pedir desculpas.

Mas os espertos estão em todos os lugares. Outro dia, no trânsito, me apoquentei com outro ilustrado oportunista que, fazendo fila dupla, conseguiu fazer o retorno na frente de todos os que, como eu, civilizadamente, aguardavam a sua vez. Não levei o desaforo para casa. Atravessei meu carro na sua frente e o chamei, a exemplo do que fiz com a paciente cara de pau, de oportunista.

Ser oportunista parece que se tornou uma virtude. Quantos são os que, ao levaram vantagem em qualquer momento da vida, tripudiando, desrespeitando o direito dos outros, se regozijam de tê-lo feito, se satisfazem ter tirado vantagem – e ainda contam numa roda de bate-papo, como se tivesse feito uma grande coisa.

Espertalhões, na minha visão, são os que adotam a máxima do mau caráter : “o sol nasceu para todos, mas a sombra é para os mais espertos”.

Abomino a esperteza, no sentido mais perverso da palavra. Sinto uma quase incontida revolta quando, malandramente, sou passado para trás ou vejo um semelhante incauto ser enganado.

Tenho verdadeira ojeriza do oportunista. Tenho vontade de trucidar (força de expressão, claro) os que só pensam em levar vantagem. Na concepção desses malandros, só eles são sabidos. O semelhante, desde seu olhar, deve mesmo é ser passado para trás.

E não nos iludamos: os malandros estão em todos os lugares, em todas as rodas, em todas as família, em todas as corporações. Eles são onipresentes e contra eles quase nada se pode fazer a não ser mesmo destestá-los.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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