É possível, sim, é muito provável mesmo, que eu seja promovido nos próximos meses – no início de fevereiro ou de março. Eu sou o número um em atividade. Sou o decano da capital. Não acredito que seja recusado, pois nunca cometi um deslize profissional. Sob essa perspectiva, nada mais justo do que começar a pensar – e elaborar, até – o discurso de uma posse que parece iminente. Posso estar sendo precipitado. Todavia, ainda assim, resolvi elaborar o meu discurso. Não estou esperando nenhuma surpresa desagradável. Eu sei da minha história profissional, eu seu o que construi. Não posso, pois, esperar outro desfecho que não seja a minha promoção.
Vejo, agora, que não é fácil elaborar um discurso de posse, se se tem a pretensão de, na mesma balada, expor o que se pensa e não ferir suscetibilidade. Na elaboração do meu discurso de posse – se for promovido, claro – estou enfrentando esse dilema, pois não é a minha intenção ser deselegante numa festa desse matiz.
O primeiro discurso que elaborei, já com cinquenta e quatro páginas, deletei da memória do computador. Nele havia dois temas que, entendi, causariam desconforto. Tratavam-se da inveja e da vaidade, que, a meu sentir, são duas das maiores razões das desavenças nas corporações. Achei que não seria compreendido, porque as pessoas não são humildes a ponto de admitir que sentem inveja do semelhante e que são vaidosas.
Eu, diferente de muitos, admito, sim, ser vaidoso. Sou vaidoso, sim, mas na medida certa. Admito que sou vaidoso, porque a minha vaidade não é doentia. Sou, sim, um profissional vaidoso. Gosto de ser reconhecido pelo meu trabalho, pela minha dedicação, pela minha postura moral, pela minha pontualidade, pelas peças que elaboro. Mas não sou invejoso. Eu vibro, por exemplo, quando leio uma sentença ou um voto bem elaborados. Eu torço, tenazmente, pelo sucesso de um colega que tenha estofo moral e intelectual e que tenha vencido sem usar expedientes escusos. No mesmo passo, torço, sim, com veemência, pelo insucesso do mau caráter. Vibro, grito, faço festa, quando um bandido togado é desmascarado. Tenho nojo, abomino os que amealham bens materiais fazendo bandalheiras, máxime se o bandido se esconde sob uma capa preta.
Sou, como se pode ver, vaidoso na medida certa e torço, sim, pelo insucesso, pela derrocada, pela queda dos que, por exemplo, usam o poder público para fazer traquinices, o que é muito diferente de ser invejoso.
Indignação é uma coisa; inveja, desde meu entendimento, é outra, bem diferente.
Inveja e vaidade, como se pode ver, são temas explosivos. É melhor, pois, defenestrá-los do meu discurso. Mas isso não é garantia de que os outros temas que escolhi não possam causar certo desconforto, sem, entrementes, ferir suscetibilidades. Pelo menos é isso que espero, sinceramente.
Vou adiante.
Prezado Doutor José Luiz,
Congratulações pelo texto, sobretudo pela sinceridade em se reconhecer vaidoso, o que por si já merece admiração. Para quem conhece o seu zelo ético e profissional, ser vaidoso é uma característica que somente o engrandece.
Criticável é a postura dos que se dizem humildes, mas que nada apresentam em concreto desta característica.
O senhor pode sime dizer-se vaidoso. Como diria o “cabôco”: pode andar de nariz empenado porque não deve nada a ninguém, sobretudo em matéria de ilicitude.
Antecipadamente parabenizo-o pela tardia, mas inevitável, promoção. E continue assim. Parafraseando Zagalo: vão ter que lhe aguentar.
Caríssimo Dr. José Luiz,
Parabéns pela excelência desse artigo. Parabéns também por essa vaidade “santa” que só as pessoas comprometidas com o bem fazer possuem.
A minha oração a Deus é para que Ele continue aguçando a cada dia esse senso de justiça que norteia a sua vida e que o torna cada vez mais especial para aqueles que têm o privilégio de conhecer a sua essência.
a inveja e vaidade, andam sempre acompanhados do ódio. Seu artigo está corretíssimo e tenho certeza que vc. chegará ao TJ, sem qualquer obstáculo.