Eu, sozinho

Minha incapacidade de ser simpático é proverbial. Todos que lidam comigo – ou que tentam fazê-lo –, já no primeiro encontro percebem faltar em mim a virtude (?) da simpatia.

Circunspeto, calado, fechado, com uma aparência que não estimula um novo relacionamento, quase recluso em mim mesmo, escravo do pensamento, fico eu, num congresso ( Seminário Internacional promovido pelo IBCCRIM, em São Paulo), com mais de quatrocentas pessoas, dentre as quais pelo menos umas vinte do Maranhão, sem conseguir estabelecer um novo relacionamento, uma nova amizade.

A propósito, ontem à tarde, entre uma palestra e outra, estando circulando nas imediações dos locais destinados às palestras, distante da muvuca, absorto, andando em círculos, refletindo exatamente acerca da minha incapacidade de fazer novos amigos, uma advogada de São Luis, muito simpática, aproximou-se de mim, com cuidado, com o zelo de quem quer ajudar um ermitão a sair do isolamento, com cuidado para que ele ( o ermitão) não se sentisse encurralado, e indagou, por que eu estava tão sozinho. Respondi a ela que nem eu mesmo sabia.

Ela ensaiou uma tentativa de diálogo mais profícuo, mas deu-se conta, sem demora, que eu era (sou) um caso perdido – e tratou de afastar-se de mim. Acompanhei os passos dela até perde-la de vista, no meio de uma quase multidão que se aglomerava em torno das mesas de lanche.

Depois desse brevíssimo encontro fiquei, mais uma vez, sozinho.

Mas não pude deixar de refletir acerca da pergunta a mim formulada pela simpática advogada.

Por que eu estava sozinho? Qual seria a verdadeira razão do meu quase isolamento?

Seria em face da saudade que já tomou conta de mim? Claro que não. Afinal todos sentem saudade.

Seria em face de uma decepção amorosa? Óbvio que não. Afinal, depois de muitos anos de intensa paixão, com o coração empedernido, calejado, experimentado, já não me permito mais viver fortes emoções, conquanto admita que estou sendo irracional, porque nunca é tarde para se viver um grande amor, uma intensa paixão.

Saudade da família? Claro que isso dói, mas não justifica o isolamento, afinal o congraçamento é o que de melhor se colhe em eventos dessa natureza e, ademais, todos temos família e todos dela sentimos saudade. Por que só em mim a saudade seria mais lancinante ?

Qual seria, então, a razão do isolamento?

Nem eu mesmo sei dizer. Só sei que sou um tipo estranho, muito estranho.

E os dias vão passando e mais introvertido, embotado, ensimesmado vou ficando.

A verdade é que, conquanto cercado de pessoas, estou sozinho, ou melhor, sinto-me sozinho.


Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

8 comentários em “Eu, sozinho”

  1. Senhor,

    não obstante padecer ou sobreviver da “quase” totalidade disto a que chamas solidão pelo livre arbítrio (?) assim como o senhor, nada vejo de obscuro ou complicado.
    Afinal, estar solitário não difere de ‘estar acompanhado de si mesmo”…e, “valei-me!”, há momentos que gostaria de ausentar-me de mim mesma.
    O único “engasgo” nesta questão, ou a única cor escura jogada nesta tela, seria a não alegria ou insatisfação pessoal em escolher ser assim.
    Eu pelo menos, me reservo o direito de viver num mundo intransponível, porém, este universo é algo como estar vivendo numa ilha, percebe?
    De modo que, todas as minhas necessidades serão depositadas sobre as minhas costas, todas as minhas tristezas serão análisadas pela terapeuta de vida que se formou em mim.
    No mais, e apesar disto, nunca deixo de, ao vislumbrar embarcações que pelo meu oceano imaginário transitam, emitir um aceno, um sorriso largo e um “adeus” necessário. Auto-proteção antecipada.
    Minha ilha, projetei-a sem porto.

    Espero que vivamos assim por escolha; e o custo, que limite-seja apenas com relação às delícias, às vantagens, a um confinamento prazeroso.

    Feliz solidão!

  2. Dr, tenha certeza que simpatia é uma virtude.
    Ser simpático é, dentre outras coisas, uma questão de educação; ser simpático é algo além que ser elegante, é cortez…
    V. Exa. poderia trabalhar esse seu lado “circunspeto, calado, fechado”. Seria muito interessante ver uma pessoa tão reta e de tanto conhecimento, ser um pouco mais carismático…
    Mas, como é sabido, “ninguém é perfeito”.
    Saudações,
    José Antônio

  3. “O EQUILÍBRIO NA MATURIDADE
    Conquanto mantendes uma vista voltada mais para alcançar realidades eternas, deveis também fazer a provisão para
    as necessidades da vida temporal. Enquanto o espírito é a nossa meta, a carne é um fato. Uma vez ou outra, as
    coisas que são necessárias para viver, podem cair nas nossas mãos por acaso; porém, de forma geral, devemos
    trabalhar inteligentemente para obtê-las. Os dois maiores problemas da vida são: cuidar da sobrevivência temporal e
    realizar a sobrevivência eterna. E, mesmo a questão da sobrevivência necessita da religião para a sua solução ideal.
    E tais são, ambos, problemas altamente pessoais. A verdadeira religião, de fato, não funciona separadamente do
    indivíduo.
    Os fatores essenciais da vida temporal, como os vejo, são:
    1. A boa saúde física.
    2. O pensar claro e desimpedido.
    3. A habilidade e a perícia.
    4. A riqueza – os bens da vida.
    5. A capacidade de suportar a derrota
    6. A cultura – educação e sabedoria.

    Até mesmo as questões físicas, de saúde e capacidade corpórea, são mais bem resolvidas quando vistas do ponto
    de vista religioso dos ensinamentos do nosso Mestre: pois o corpo e a mente do homem são a morada do dom dos
    Deuses, o espírito de Deus tornando-se o espírito do homem. A mente do homem, assim, torna-se a mediadora
    entre as coisas materiais e as realidades espirituais.
    Assegurar a nossa parte de coisas desejáveis na vida, requer inteligência. É inteiramente errôneo supor que a
    fidelidade de fazer o nosso trabalho diário vai assegurar as recompensas da riqueza. Exceção feita à aquisição
    ocasional e acidental de riqueza; as recompensas materiais da vida temporal devem fluir de certos canais, e somente
    aqueles que têm acesso a esses canais podem esperar ser bem recompensados pelos seus esforços temporais. A
    pobreza será sempre o quinhão de todos os homens que procuram a riqueza em canais isolados e individuais. O
    planejamento sábio, por conseguinte, torna-se o único elemento essencial à prosperidade no mundo. O êxito requer
    não apenas a nossa devoção ao próprio trabalho, mas também que funcionemos como uma parte de um dos canais
    da riqueza material. Se não fordes prudentes, podereis entregar uma vida devotada à vossa geração, sem obter
    recompensa material; se fordes um beneficiário acidental do fluir da riqueza, podereis nadar no luxo, ainda que não
    tenhais feito nada que valha a pena para os vossos semelhantes.
    Habilidade é o que herdais, enquanto perícia é o que adquiris. A vida não é real para alguém que não pode fazer
    bem – como um especialista – ao menos uma coisa. A perícia é uma das fontes reais de satisfação do viver. A
    habilidade implica o dom de prever, de ver longe. Não vos deixeis decepcionar pelas recompensas tentadoras da
    realização desonesta; estejais dispostos a trabalhar arduamente pelos retornos futuros inerentes da conduta honesta.
    O homem sábio é capaz de distinguir entre meios e fins; porém, algumas vezes, o próprio excesso de planejamento
    para o futuro derrota-se no seu alto propósito. Como um buscador de prazeres deveríeis sempre visar ser tanto um
    criador quanto um consumidor.
    Treinai a vossa memória para manter em lugar sagrado os episódios fortalecedores e valiosos da vida, dos quais vós
    podeis vos lembrar à vontade para o vosso prazer e edificação. Assim, construais para vós próprios, e em vós
    preóprios, galerias de reserva de beleza, bondade e grandeza artística. E as memórias mais nobres de todas são os
    tesouros guardados na memória tais como os grandes momentos de uma amizade magnífica. E todos esses tesouros
    da memória irradiam as suas mais preciosas e elevadas influências sob o toque liberador da adoração espiritual.
    A vida, contudo, transformar-se-á em uma carga existencial, a menos que aprendais como fracassar airosamente.
    Existe na derrota uma arte que as almas nobres sempre adquirem; deveis saber como perder sem perder a alegria;
    não deveis ter temor ao desapontamento. Nunca hesiteis em admitir o fracasso. Não tenteis disfarçar o fracasso por
    baixo de sorrisos justificativos ou, mesmo, de decepção ou de otimismo irradiantes. Soa bem clamarmos pelo
    sucesso, sempre, mas os resultados ao fim podem ser consternadores. Tal técnica leva diretamente à criação de um
    mundo de irrealidade e ao choque inevitável da desilusão final.
    O êxito pode gerar coragem e proporcionar autoconfiança, mas a sabedoria advém somente das experiências de
    ajustamento aos resultados dos fracassos. Os homens que preferem as ilusões otimistas à realidade nunca se tornam
    sábios. Somente aqueles que enfrentam de frente os fatos, ajustando-os aos ideais, podem alcançar a sabedoria. A
    sabedoria inclui tanto os fatos, quanto o ideal e, por conseguinte, salva os seus devotos dos dois extremos estéreis
    da filosofia – o do homem cujo idealismo exclui os fatos; e o do materialista que é desprovido de abertura espiritual.
    As almas tímidas ou timoratas, que só mantêm a luta pela vida com a ajuda de falsas ilusões continuadas desucesso, estão fadadas a sofrer fracassos e a experimentar a derrota quando, finalmente, acordarem do mundo de
    sonhos da sua própria imaginação.
    E, nesse afã de encarar os insucessos, e de ajustamento à derrota, é que a visualização de longa distância, na
    religião, exerce a sua suprema influência. O malogro é simplesmente um episódio educacional – um experimento
    cultural na aquisição da sabedoria –, na experiência do homem que busca a Deus e que embarcou na aventura eterna
    da exploração de um universo. Para tais homens a derrota não é senão um novo instrumento para a realização de
    níveis mais elevados de realidade no universo.
    A carreira de um homem que busca a Deus pode ser um grande êxito à luz da eternidade, ainda que toda a empresa
    da vida temporal possa parecer um completo malogro, cada fracasso na vida deve ser colhido como um
    complemento para se alcançar a cultura da sabedoria e do espírito. Não cometais o erro de confundir conhecimento,
    cultura e sabedoria. Eles estão relacionados entre si na vida, mas representam valores espirituais bastante diferentes:
    a sabedoria sempre domina o conhecimento; e sempre glorifica a cultura.”

  4. Basta inaugurar um sorriso e jamais voltará a ficar ou se sozinho.

  5. A MUDANÇA NÃO REQUER NENHUMA FÓRMULA MÁGICA. BASTA INAUGURAR UM SORRISO E NUNCA MAIS FICARÁ OU SE SENTIRÁ SOZINHO.

    UM CINCHADO E FRATERNO ABRAÇO COM O DOBRO DE VOLTAS DO ANTERIOR

    ROGER

    12/08/10

  6. Des.
    Mais uma vez me identifico com seus sentimentos . Também já me senti assim em um congresso em São Paulo, sozinha e sem ter motivação para iniciar uma nova amizade. Solidão no meio de uma multidão é um sentimento terrível!

  7. Adorei! simplesmente magnifico a desenvoltura,o capricho com as palavras ao falar de si.Não o conhecia,nunca ouvi falar do senhor,pois estou aqui em Belo Horizonte/MG psicanalizando e dançando Ballet.Mas buscando na Net,algo sobre a Inveja, dei com sua cronica e adentrei seu Blog e li, re-li varias vezes alguns dos artigos.Desculpe a simplicidade de minha escrita-não sei dizer de outro modo.O que realmente significou para mim, foi o aprendizado.E nisto devo agradecer-lhe.

    Atenciosamente,

    Venusia B.Pimentel:.

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