O dia-a-dia de um magistrado

CAPÍTULO V 

Estou encerrando a semana como comecei – sem realizar audiências. Apesar da não realização de audiências, despachei vários processos e prestei informações em face de três habeas corpus.

Hoje, a exemplo dos dias anteriores, nenhum audiência foi realizada. Agora, além das dificuldades decorrentes da falta de oficial de justiça, tem-se a greve da polícia civil.
Do Tribunal e da Corregedoria tenho recebido a mesma resposta, ou seja, o silêncio. É triste, muito triste, ver que a Justiça não funciona. Até quando esse quadro vai permanecer não sei.
No último ofício que mandei ao Corregedor, lamentando a situação da sétima vara criminal, disse a ele que o povo tem razão quando argumenta que nós não merecemos o que ganhamos.
No último ofício em que prestei informações em face de habeas corpus, fiz ver à relatora que o povo já começa a fazer justiça com as próprias mãos, por não mais acreditar em nossas instituições. E é a mais cristalina verdade. Há vários episódios em que a própria população prende o assaltante e ainda tenta linchá-lo. Somos todos culpados por este estado de coisas. O Poder Judiciário, verdadeiramente, é uma quimera.
Triste dos que precisam do nosso Poder!
Muitos são os que lutam para fazer justiça. Esses, nada obstante, são sempre mal intepretados.
Resta a nós clamarmos aos céus. Dos homens quase nada mais se pode esperar.
Quem faz a afirmação supra é quem lida com o Poder Judiciário, Polícia e Ministério Público há quase trinta anos.
Estou cada dia descrente dos homens. Os homens públicos, em nosso país e, particularmente, em nosso Estado, só defendem os seus próprios interesses.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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